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"Não basta fazer coisas boas. É preciso fazê-las bem.!"

25/02/2011

morte ? como e onde ?


Desde os primórdios da Civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a Humanidade. A morte e os supostos eventos que a sucedem são, historicamente, fonte de inspiração para doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos.
O interesse pelo tema da morte teve início com a leitura de algumas reportagens do LELU (Laboratório de Estudos e Intervenção sobre o Luto). O contato com estas reportagens, e a análise da morte como fenômeno psíquico, foram o ponto de partida deste trabalho. As matérias vieram de encontro aos anseios naturais sobre a morte e mostraram que, apesar da dimensão etérea que a morte toma em nível psíquico, existem profissionais e entidades empenhadas em estudá-la de forma científica, usando uma metodologia essencialmente psicológica.

Em função do contato inicial com o material do LELU e do interesse por ele despertado, a busca de outras pesquisas já realizados no mesmo campo foi um impulso natural, e acabou formando a base teórica que sustenta este trabalho.

A morte como fenômeno físico já foi exaustivamente estudada e continua sendo objeto de pesquisas, porém permanece um mistério impenetrável quando nos aventuramos no terreno do psiquismo.

Falar sobre morte, ao mesmo tempo que ajuda a elaborar a idéia da finitude humana, provoca um certo desconforto, pois damos de cara com essa mesma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.

A certeza humana da morte aciona uma série de mecanismos psicológicos. E são esses mecanismos que instigam a nossa curiosidade científica. Em outras palavras, o foco de interesse seria como o homem lida com a morte; seus medos, suas angústias, suas defesas, suas atitudes diante da morte.

O objetivo da presente pesquisa é o aprofundamento teórico da questão da morte, enfocando a maneira pela qual o homem lida com este fenômeno humano inevitável, percebendo os mecanismos psicológicos que entram em ação quando o homem se encontra diante da morte.

O tema da morte não é de forma alguma uma discussão atual. Foram muitos os filósofos, historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir o assunto no decorrer da História. Isto porque a morte não faz parte de uma categoria específica; é uma questão que atravessa a história, é sobretudo uma questão essencialmente humana.

Dentro dos vários enfoques teóricos que possibilitam a reflexão sobre a morte, um deles nos interessa em especial: o enfoque psicanalítico. Foi esse enfoque que deu corpo às nossas indagações sobre a morte, seja através da análise pessoal, seja através da teoria propriamente dita.

A concepção que se tem sobre a morte e a atitude do homem diante dela, tende a se alterar de acordo com o contexto histórico e cultural. Sem dúvida o advento do capitalismo e seus tempos de crise, fez surgir uma nova visão sobre a morte, que segundo Torres, (1983), tem a ver com o surgimento do capital como força principal de produção. Neste sentido, o vivo pode tudo e o morto não pode nada, já que teve sua vida produtiva interrompida.

Diante desta crise, na qual os homens encontram-se completamente abandonados e despreparados, vemos este aprofundamento teórico como uma forma de dimensionar a morte, contribuindo para sua melhor compreensão e elaboração, instrumentalizando sobretudo, os profissionais da área de saúde, que trabalham lado a lado com este tema.

Este trabalho encontra-se estruturado em três partes principais. A primeira busca analisar o impacto da morte na sociedade através do tempo, mostrando como diferentes povos em diferentes épocas, lidavam com essa questão. A segunda parte fala sobre os sentimentos ambíguos gerados em nós, seres humanos, quando somos obrigados a encarar a nossa própria morte, bem como a morte do outro. A terceira e última parte fala do luto, em seus diversos contextos.

DADOS HISTÓRICOS

Possuímos uma herança cultural sobre a morte que define nossa visão de morte nos dias atuais. Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), as interpretações atuais sobre a morte constituem parte da herança que as gerações anteriores, as antigas culturas nos legaram.

Faremos então, um pequeno passeio pela história para que possamos entender como foi construída a idéia da morte encontrada nos dias de hoje.

Arqueólogos e antropólogos, através de seus estudos, descobriram que o homem de Neanderthal já se preocupava com seus mortos:

“Não somente o homem de Neanderthal enterra seus mortos, mas às vezes os reúne (gruta das crianças, perto de Menton).” Morin (1997)

Ainda segundo Morin (1997) na pré-história, os mortos dos povos musterenses eram cobertos por pedras, principalmente sobre o rosto e a cabeça, tanto para proteger o cadáver dos animais, quanto para evitar que retornassem ao mundo dos vivos. Mais tarde, eram depositados alimentos e as armas do morto sobre a sepultura de pedras e o esqueleto era pintado com uma substância vermelha.

“O não abandono dos mortos implica a sobrevivência deles. Não existe relato de praticamente nenhum grupo arcaico que abandone seus mortos ou que os abandone sem ritos.” Morin (1997)

Ainda hoje, nos planaltos de Madagascar, durante toda a vida, os kiboris constróem uma casa de alvenaria, lugar onde seu corpo permanecerá após a morte.

Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), os egípcios da Antigüidade, em sua sociedade bastante desenvolvida do ponto de vista intelectual e tecnológico, consideravam a morte como uma ocorrência dentro da esfera de ação. Eles possuíam um sistema que tinha como objetivo, ensinar cada indivíduo a pensar, sentir e agir em relação à morte.

Os autores seguem dizendo que os malaios, por viverem em um sistema comunitário intenso, apreciavam a morte de um componente, como uma perda do próprio grupo. Desta feita, um trabalho de lamentação coletiva diante da morte era necessário aos sobreviventes. Ademais, a morte era tida não como um evento súbito, mas sim como um processo a ser vivido por toda a comunidade.

Segundo Áries (1977), na Vulgata, o livro da Sabedoria, após a morte, o justo irá para o Paraíso. As versões nórdicas do livro da Sabedoria rejeitaram a idéia de Paraíso descritas no livro original pois, segundo os tradutores, os nórdicos não esperam as mesmas delícias que os orientais, após a morte. Isso porque os orientais descrevem que o Paraíso tem “a frescura da sombra”, enquanto os nórdicos preferem “o calor do sol”. Estas curiosidades nos mostram como o ser humano deseja, ao menos após a morte, obter o conforto que não conseguiu em vida.

Já o budismo, através da sua mitologia, busca afirmar a inevitabilidade da morte. A doutrina budista nos conta a “Parábola do Grão de Mostarda”: uma mulher com o filho morto nos braços, procura Buda e suplica que o faça reviver. Buda pede à mulher que consiga alguns grãos de mostarda para fazê-lo reviver. No entanto, a mulher deveria conseguir estes grãos em uma casa onde nunca houvesse ocorrido a morte de alguém. Obviamente esta casa não foi encontrada e a mulher compreendeu que teria que contar sempre com a morte.

Na mitologia hindu, a morte é encarada como uma válvula de escape para o controle demográfico. Quando a “Mãe-Terra”, torna-se sobrecarregada de pessoas vivas, ela apela ao deus Brahma que envia, então, a “mulher de vermelho” (que representa a morte na mitologia ocidental) para levar pessoas, aliviando assim, os recursos naturais e a sobrecarga populacional da “Mãe-Terra”.

Segundo Mircea Elíade (1987) os fino-úgricos (povos da região da Península de Kola e da Sibéria Ocidental), têm sua religiosidade profundamente vinculada ao xamanismo. Os mortos destes povos eram enterrados em covas familiares, onde os que morreram há mais tempo, recebiam os “recém mortos”. Assim, as famílias eram constituídas tanto pelos vivos quanto pelos mortos.

Esses exemplos nos trazem uma idéia de continuidade em relação à morte, não sendo a mesma, considerada como um fim em si. Havia uma certa tentativa de controle mágico sobre a morte, o que facilitava sua integração psicológica, não havendo portanto, uma cisão abrupta entre vida e morte. Isso sem dúvida aproximava o homem da morte com menos terror.

Apesar da familiaridade com a morte, os Antigos de Constantinopla mantinham os cemitérios afastados das cidades e das vilas. Os cultos e honrarias que prestavam aos mortos, tinham como objetivo mante-los afastados, de modo que não “voltassem” para perturbar os vivos.

Por outro lado, na Idade Média, os cemitérios cristãos localizavam-se no interior e ao redor das igrejas e a palavra cemitério significava também “lugar onde se deixa de enterrar”. Daí, eram tão comuns as valas cheias de ossadas sobrepostas e expostas ao redor das igrejas.

A Idade Média foi um momento de crise social intensa, que acabou por marcar uma mudança radical na maneira do homem lidar com a morte. Kastenbaum e Aisenberg (1983) nos relatam que a sociedade do século catorze foi assolada pela peste, pela fome, pelas cruzadas, pela inquisição; uma série de eventos provocadores da morte em massa. A total falta de controle sobre os eventos sociais, teve seu reflexo também na morte, que não podia mais ser controlada magicamente como em tempos anteriores. Ao contrário, a morte passou a viver lado a lado com o homem como uma constante ameaça a perseguir e pegar a todos de surpresa.

Esse descontrole, traz à consciência do homem desta época, o temor da morte. A partir daí, uma série de conteúdos negativos começam a ser associados à morte: conteúdos perversos, macabros, bem como torturas e flagelos passam a se relacionar com a morte, provocando um total estranhamento do homem diante deste evento tão perturbador. A morte se personifica como forma do homem tentar entender com quem está lidando, e uma série de imagens artísticas se consagram como verdadeiros símbolos da morte, atravessando o tempo até os dias de hoje.

Kübler-Ross (1997) descreve que são cada vez mais intensas e velozes as mudanças sociais, expressas pelos avanços tecnológicos. O homem tem se tornado cada vez mais individualista, preocupando-se menos com os problemas da comunidade. Essas mudanças tem seu impacto na maneira com a qual o homem lida com há morte nos dias atuais.

O homem da atualidade convive com a idéia de que uma bomba pode cair do céu a qualquer momento. Não é de se surpreender portanto que o homem, diante de tanto descontrole sobre a vida, tente se defender psiquicamente, de forma cada vez mais intensa contra a morte. "Diminuindo a cada dia sua capacidade de defesa física, atuam de várias maneiras suas defesas psicológicas" Kübler-Ross (1997)

Ao mesmo tempo, essas atrocidades seriam, segundo ponto de vista de Mannoni, (1995), verdadeiras pulsões de destruição; a dimensão visível da pulsão de morte.

Mannoni (1995), citando Áries, conta que a morte revelou sua correlação com a vida em diversos momentos históricos. As pessoas podiam escolher onde iriam morrer; longe ou perto de tais pessoas, em seu lugar de origem; deixando mensagens a seus descendentes.

A possibilidade de escolha deu lugar a uma crescente perda da dignidade ao morrer, como nos afirma Kübler-Ross (1997): "...já vão longe os dias em que era permitido a um homem morrer em paz e dignamente em seu próprio lar."

Para Mannoni, nos dias atuais, 70% dos pacientes morrem nos hospitais, enquanto no século passado, 90% morriam em casa, perto de seus familiares. Isto ocorre porque, nas sociedades ocidentais o moribundo é, geralmente, afastado de seu círculo familiar.

“O médico não aceita que seu paciente morra e, se entrar no campo em que se confessa a impotência médica, a tentação de chamar a ambulância (para se livrar do “caso”) virá antes da idéia de acompanhar o paciente em sua casa, até o fim da vida.” Mannoni (1995)

A morte natural deu lugar à morte monitorada e às tentativas de reanimação. Muitas vezes, o paciente nem é consultado quanto ao que deseja que se tente para aliviá-lo. A medicalização da morte e os cuidados paliativos, não raro, servem apenas para prolongar o sofrimento do paciente e de sua família. É muito importante que as equipes médicas aprendam a distinguir cuidados paliativos e conforto ao paciente que está morrendo, de um simples prolongamento da vida.

Outro aspecto comportamental do ser humano em relação à morte é que antigamente, preferia-se morrer lentamente, perto da família, onde o moribundo tinha a oportunidade de se despedir. Atualmente, não é raro se ouvir dizer que é preferível uma morte instantânea, que o longo sofrimento causado por uma doença.

Entretanto, segundo Kovács (1997) contrariando o senso comum, o tempo da doença, justamente ajuda a assimilar a idéia de morte, e a conseguir tomar decisões concretas, como a adoção dos filhos ou a resolução de desentendimentos.

Segundo Bromberg (1994) nossa cultura não incorpora a morte como parte da vida, mas sim como castigo ou punição.

O HOMEM DIANTE DA PRÓPRIA MORTE / O HOMEM DIANTE DA MORTE DO OUTRO

Desde muito cedo, ainda bebês, quando passamos a distinguir nosso próprio corpo do corpo da mãe, somos obrigados a aprender a nos separar de quem ou daquilo que amamos. A princípio, convivemos com separações temporárias, como por exemplo, a mudança de escola. Mas chega uma hora, que acontece a nossa primeira perda definitiva: alguém que nos é muito querido, um dia, se vai para sempre. É justamente esse “para sempre” que mais nos incomoda.

Porém, quanto mais conscientes estivermos de nossas mortes diárias, mais nos preparamos para o momento da grande perda de tudo que colecionamos e nutrimos durante a vida: desde toda a bagagem intelectual, todos os relacionamentos afetivos, até o corpo físico.

Com o distanciamento cada vez maior do homem em relação à morte, cria-se um tabu, como se fosse desaconselhável ou até mesmo proibido falar sobre este tema.

Segundo Bromberg (1994) “como aprendemos em nossa cultura, evitamos a dor, evitamos a perda e fugimos da morte, ou pensamos fugir dela...”

Esse quadro atual nos revela a dimensão da cisão que o homem tem feito entre vida e morte, tentando se afastar ao máximo da idéia da morte, considerando sempre que é o outro que vai morrer e não ele. Nos lançamos então à questão da angústia e do medo em relação à morte.

Uma das limitações básicas do homem é a limitação do tempo. Segundo Torres (1983): "...o tempo gera angústia, pois do ponto de vista temporal, o grande limitador chama-se morte..."

A Psicanálise Existencial, apontada por Torres (1983) revela a dimensão da angústia da morte: "A angústia mesma nos revela que a morte e o nada se opõe à tendência mais profunda e mais inevitável do nosso ser", que seria a afirmação do si mesmo.

Mannoni (1995) busca em Freud, palavras que falem da angústia do homem diante da morte: "... Freud a situa ou na reação a uma ameaça exterior, ou como na melancolia, ao desenrolar de um processo interno. Trata-se sempre, porém, de um processo que se passa entre o eu e a severidade do supereu."

Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983) o ser humano lida com duas concepções em relação à morte: a morte do outro, da qual todos nós temos consciência, embora esteja relacionada ao medo do abandono; e a concepção da própria morte, a consciência da finitude, na qual evitamos pensar pois, para isto, temos que encarar o desconhecido.

É a angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte, que faz com que o ser humano mobilize-se a vencê-la, acionando para este fim, diversos mecanismos de defesa, expressos através de fantasias inconscientes sobre a morte. Muito comum é a fantasia de existir vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do prazer e onde não existe sofrimento; de existir a possibilidade de volta ao útero materno, uma espécie de parto ao contrário, onde não existem desejos e necessidades. Ao contrário dessas fantasias prazerosas, existem aquelas que provocam temor. O indivíduo pode relacionar a morte com o inferno. São fantasias persecutórias que têm a ver com sentimentos de culpa e remorso. Além disso, existem identificações projetivas com figuras diabólicas, relacionando a morte com um ser aterrorizante, com face de caveira, interligado a pavores de aniquilamento, desintegração e dissolução.

O homem é o único animal que tem consciência de sua própria morte. Segundo Kovács (1998): "O medo é a resposta mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e credo religioso."

Para a Psicanálise Existencial enunciada por Torres, (1983): "... o medo da morte é o medo básico e ao mesmo tempo fonte de todas as nossas realizações: tudo aquilo que fazemos é para transcender a morte.”

Complementa esse pensamento afirmando que "todas as etapas do desenvolvimento são na verdade formas de protesto universal contra o acidente da morte."

Segundo Freud (1917) ninguém crê em sua própria morte. Inconscientemente, estamos convencidos de nossa própria imortalidade. “Nosso hábito é dar ênfase à causação fortuita da morte – acidente, doença, idade avançada; desta forma, traímos um esforço para reduzir a morte de uma necessidade para um fato fortuito.”

22/02/2011

“O TRIBUNAL DE CRISTO”


O Tribunal de Cristo antecederá as Bodas do Cordeiro, sendo o primeiro evento preparado para a Igreja imediatamente após o arrebatamento. Diante deste Tribunal, comparecerão todos os salvos que foram arrebatados. Porém, é importante salientar que este julgamento não será para condenação, e sim para retribuição (galardão).
“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal”
(2Co 5.10)

Neste momento será manifesto publicamente, diante de Deus, dos anjos e dos demais salvos, quem realmente fomos e o teor de nossas obras. Tudo o que aqui estamos fazendo, e a maneira como está sendo feito para Deus ou em favor de sua obra, direta ou indiretamente, também tudo aquilo que poderíamos ter feito e deixamos por fazer, está sendo usado para construirmos nosso galardão.

“E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará”.
(1Co 3.13)

O apóstolo Paulo faz a citação de alguns materiais, os quais são relacionados por ordem decrescente de valor, dando a entender que a qualidade de nossas obras está intimamente ligada ao material que usamos para construí-la. Portanto, devemos considerar que, da maneira que uns usam do mais puro ouro no exercício das suas obras, outros não empregam além do que palhas.


O GALARDÃO

Concernente ao “galardão” encontramos no texto bíblico, alusão a este como sendo uma coroa, uma vez que esta representa a grandeza da realeza dos reis terrestres. Isso, porém, não significa que cada um terá na sua cabeça uma coroa, mas simboliza a grandeza do pagamento ministrado por Cristo àqueles que lhe serviram fielmente. No momento em que recebermos um novo corpo, e desta feita incorruptível, este será igual para todos, indistintamente, porém diante do Tribunal de Cristo, a glória que há neste corpo será acrescida, mediante o merecimento individual de cada um ali congregado.

“Mas todos nós, com a cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.
(2Co 3.18)

A VERGONHA

Diante do fogo será manifesto o teor de nossas obras. Mas, e se as obras de alguém não forem além do que simplesmente palhas? O que lhe será remetido? Muitos não terão nada a receber, não serão dignos de qualquer prêmio. Serão salvos, contudo sem lograr qualquer laurel. Entrarão nas regiões celestes, mas sem nenhuma glória, porque a obra que diante dos homens parecia tão grande, provada pelo fogo queimou e foi aniquilada.

“Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.
(1Co 3.14,15)

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus”.
(Ef 2.8)

É como alguém que se salva de um incêndio, que apesar de ter perdido tudo, permanece vivo.

Fraternalmente em Cristo,
Ângelo dos Santos Monteiro
fonte http://pbangelo.blogspot.com/

21/02/2011

Lista dos Deputados Evangélicos que votaram contra salário mínimo mais justo

foto meramente ilustrativa
"Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz comete pecado." Tiago 4:17

"Até quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles nada sabe, e nada entendem. Andam em trevas." Salmos 82:2-5a


Abaixo segue a lista com os nomes dos parlamentares evangélicos que preferiram ser fiéis à orientação partidária, a serem fiéis aos princípios de justiça preconizados no Evangelho de Jesus, votando contra um salário mais digno para o trabalhador brasileiro. A questão é: eles são deputados cristãos, ou cristãos deputados? Porque se forem cristãos deputados, devem mais lealdade a Cristo e ao povo do que ao partido. O partido lhes deu a legenda, mas foi o povo que lhes confiou o voto. Eis a lista:

1. Anderson Ferreira
2. André Zacharow
3. Aguinaldo Ribeiro
4. Antonio Bulhões
5. Anthony Garotinho
6. Antônia Lúcia
7. Aureo
8. Benedita da Silva
9. Cleber Verde
10. Dr. Grilo
11. Edinho Araújo
12. Edmar Arruda
13. Edivaldo Holanda Junior
14. Eduardo Cunha
15. Erivelton Santana
16. Fátima Pelaes
17. Filipe Pereira
18. George Hilton
19. Heleno Silva
20. Íris de Araújo
21. Jefferson Campos
22. Jhonatan de Jesus
23. Josué Bengtson
24. Laercio Oliveira
25. Lauriete
26. Leonardo Quintão
27. Liliam Sá
28. Lincoln Portela
29. Lourival Mendes
30. Manato
31. Marcelo Aguiar
32. Mário de Oliveira
33. Márcio Marinho
34. Missionário José Olimpio
35. Neilton Mulim
36. Nilton Capixaba
37. Otoniel Lima
38. Oziel Oliveira
39. Pastor Eurico
40. Pastor Marco Feliciano
41. Paulo Freire
42. Professor Setimo
43. Ronaldo Fonseca
44. Ronaldo Nogueira
45. Sérgio Brito
46. Sueli Vidigal
47. Silas Câmara
48. Sabino Castelo Branco
49. Hidekazu Tayama
50. Vitor Paulo
51. Walter Tosta
52. Walney Rocha
53. Washington Reis
54. Zé Vieira
55. Zequinha Marinho

Para sermos justos, oferecemos também a seguir a lista dos parlamentares evangélicos cujos votos foram favoráveis à emenda que concedia o aumento maior do o oferecido pelo governo.

1. Andreia Zito
2. Arolde de Oliveira
3. Bruna Furlan
4. Fernando Francischini
5. Henrique Afonso
6. João Campos
7. Jorge Tadeu Mudalen
8. Onyx Lorenzon
9. Romero Rodrigues
10. Ruy Carneiro
11. Vaz de Lima


Abstiveram-se de votar: Lindomar Garçon e pastor Roberto de Lucena


"Ais dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que escrevem perversidades, para privar da justiça os pobres." Isaías 10:1

"Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno, e corre atrás de presentes." Isaías 1:23a


Desta vez prefiro não fazer comentários e deixar que a Bíblia fale por si. Se é que esses homens ainda têm algum temor a Deus e reverência à Sua Palavra...Desculpem-me pelo tom, mas estou revoltado com esta bancada evangélica (ou seria cambada evangélida?)

20/02/2011

Livros Poéticos



Introdução

Os Salmos, Jó e os Provérbios, nas Bíblias hebraicas, formam um grupo à parte, com a denominação de Livros poéticos. No uso comum, cristão e moderno, porém, acrescenta-se-lhes também o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, o livro da Sabedoria e o Eclesiástico ou Jesus de Sirac; e é freqüente entre os Padres gregos bem como entre os autores modernos, estender a todos o nome de Livros poéticos. E com razão; pois o Cântico dos Cânticos e o Eclesiástico são escritos em versos como os Provérbios. O Eclesiastes e o livro da Sabedoria possuem, outrossim, forma poética, embora menos rigorosa. Trata-se, portanto, de um elemento comum a todos esses livros.

São também chamados livros didáticos ou sapienciais, por falarem muito de sabedoria. Mas o título de sapienciais é reservado especialmente aos últimos cinco livros (Prov, Ecl, Cânt, Sab e Eclo); os salmos são na máxima parte de gênero lírico, sem, todavia, lhes faltar o elemento didático; o gênero do Cântico dos Cânticos é exclusivamente o lírico. De resto, lírico e didático são os dois gêneros de poesia cultivada pelos hebreus.

O que caracteriza toda a poesia hebraica é o chamado paralelismo. Ordinariamente, o verso compõe-se de dois membros ou hemistíquios, o segundo dos quais forma certa simetria com o primeiro, ora repetindo com outras palavras o conceito (paralelismo sinonímico), como, por exemplo:

"Quando Israel saiu do Egito,

e a casa de Jacó do meio dum povo bárbaro,

Deus consagrou ao seu serviço o povo de Judá,

e estabeleceu em Israel o seu império" (Sl. 113:1-2);

ora destacando o mesmo conceito por meio de contrastes (paralelismo antitético), como, por exemplo:

"Um filho sábio é a alegria de seu pai,

porém um filho insensato é a tristeza de sua mãe" (Prov. 10:1).

O segundo hemistíquio não é, às vezes, a repetição, e sim o complemento do primeiro (paralelismo sintético ou progressivo), como, por exemplo:

"Com a minha voz clamei ao Senhor,

e ele ouviu-me do seu santo monte" (Sl. 3:5).

A observância dos paralelismos ajuda a compreensão do verso, visto que a segunda parte repete e, muitas vezes, esclarece obscuridades ou figuras contidas no primeiro hemistíquio. Por exemplo: Sab 33:6 o "sopro da boca" de Deus não é senão a sua "palavra," o "f iat" da criação (cf. v. 9); Sl. 71:1 "o filho do rei" não é pessoa diversa do "rei" do primeiro hemistíquio. Deve-se notar de maneira especial que freqüentes vezes os dois hemistíquios paralelos apresentam cada um uma parte e aspecto da idéia, e unidos formam um só conceito. Destarte o citado Prov. 10:1 quer significar que o filho sábio é a glória dos pais, ao passo que o insensato causa-lhes tristeza. Assim no Sl. 91:3 proclamar pela manhã a bondade de Deus, e pela tarde a sua fidelidade tem o sentido de: exaltar dia e noite a liberalidade constante de Deus.

Muito se disputou nos últimos tempos se o verso hebraico tenha um determinado ritmo e qual, sem contudo se ter chegado a um acordo entre os estudiosos a respeito. Mais solidamente provadas parecem estas normas: (1°) O verso, ou melhor dito, o hemistíquio hebraico, deve ter um determinado número de sílabas acentuadas, nada mais; (2°) O número de sílabas acentuadas varia de duas a cinco em cada hemistíquio; (3°) Quando o hemistíquio possui cinco acentos, ordinariamente entre o terceiro e o quarto interpõe-se uma cesura, resultando assim um ritmo elegíaco (com dois períodos de comprimento desigual); (4°) Entre as duas sílabas acentuadas estão em geral uma, duas ou três não acentuadas. Portanto, o número de sílabas num verso ou hemistíquio é indeterminado, mas conservado dentro de certos limites.

A observação exata desse ritmo é de grande utilidade para a pontuação, isto é, a divisão entre os hemistíquios e também entre os versículos, que não raro são mal distinguidos, inclusive na divisão massorética, introduzida pelos mestres hebreus, e geralmente seguida, como se pode ver em Jó 15:23-24:31-32; 16:7-8; 19:14-15, ou nos S1. 16:3-4; 30:11-12; 39:7-9; 64:2-4 etc. Conseqüência dessa atenção às exigências do ritmo é a restituição da composição do poeta sagrado a toda a sua natural beleza e a projeção de uma luz intensa para a compreensão do seu pensamento, animada pelo sopro divino.

O livro, que recebe o título de Jó, do nome de um protagonista, pode ser considerado com toda justiça um dos mais belos poemas da literatura mundial. Tema apaixonante, drama a um só tempo profundamente humano e divinamente sublime, é desenvolvido com tal riqueza de colorido, vigor de afeto e tantos artifícios de forma, que é permitido afirmar que nele o idioma hebraico exauriu a sua facúndia, e a arte, o seu estilo.

Na verdade, a ação é simples. Um homem de proceder irrepreensível é alvo de infortúnios de toda sorte, a ponto de não lhe restarem senão poucas carnes semicorrompidas a cobrir-lhe o esqueleto. Alguns de seus amigos, vindos para consolá-lo, vêem nesse cúmulo de sofrimentos a prova tangível de gravíssimos pecados, pelos quais ele o teria merecido, e o exprobram. Jó, paciente, protesta a sua inocência, sem, porém, conseguir vencer os preconceitos dos seus acusadores. O próprio Deus parece surdo aos brados dilacerantes do infeliz Jó, cujo espírito é torturado ainda mais do que a sua carne. Contudo, sua fé na bondade da própria causa e na justiça de Deus não desfalece, e, superada a prova, Deus intervém para defendê-lo e para restituir-lhe a antiga prosperidade. A conclusão é que, embora por uma misteriosa e sábia disposição divina, às vezes também os justos sofrem sem culpa nenhuma; e que, finalmente, Deus recompensa a virtude des- conhecida pelos homens.

O objetivo do livro é a discussão, concretizada num fato, em torno da razão e da origem ontológica da dor. A discussão, desenvolvida em forma de diálogo entre Jó e seus amigos, e em versos de esmerada feitura, constitui a parte principal e como que o corpo da obra, o poema propriamente dito (3-41). Precede a introdução em prosa (1-2) e encerra-o um epílogo, também em prosa (42), à guisa de coroamento.

Esse o grandioso drama, no qual uma rara profundidade de sentimentos, unida a uma incomparável beleza literária, mantém-se até ao toque final.

A diferença entre o Jó paciente e resignado (1-2) e Jó queixoso e agressivo (3-31) explica-se pelos gêneros literários diferentes das seções. Os discursos de Eliú (32-37) podem ter sido inseridos posteriormente, para completar o assunto, deixado sem solução nos capítulos anteriores. O mesmo se diga quanto a teofania (38-41).

Quem foi o autor desta obra maravilhosa? Ante o silêncio completo do próprio texto, as conjeturas não têm conta. Um dos grandes profetas pré-exílicos? Estariam a seu favor o estilo e a linguagem. Um dos sábios doutores da lei pós-exílicos? O assunto e o modo de dialogar justificariam essa suposição. Seja como for, o autor foi um dos grandes representantes da língua e do pensamento do povo hebraico.

Da natureza poética do livro se segue que não se deve insistir na veracidade histórica de cada passo da discussão. Além disso, a própria índole do diálogo supõe que o autor não tenha querido aprovar todas as idéias expressas pelos interlocutores. A chave da composição conexa está em 42:1-8:Jó, embora tendo um conceito elevado de Deus, pecou por presunção e violência; aos seus amigos, pelo contrário, faltou o conceito adequado de Deus e de sua Providência.

O prólogo e o epílogo são ficções literárias. Discute-se a historicidade da pessoa de Jó; a opinião mais plausível é a de que também seja um personagem fictício, pois o objetivo da obra não é contar a história de um sofredor, e sim, oferecer uma solução e um consolo a todos os que sofrem. A cena passa-se nas fronteiras entre a Iduméia e a Arábia. A antigüidade cristã venerava a terra de Jó nas vizinhanças de Carnaim, hoje Cheh Sa'ad, na Batanéia (cf. 1Mac 5:26), onde subsistem reminiscências na toponomástica local.

Jó raras vezes é mencionado no resto da Sagrada Escritura. Em Ez 14:14-20 é posto entre os homens retomados pela sua justiça e virtude. Em Tob 2:12-15 e em Tg 5:11 é proposto como exemplo de paciência heróica. Com efeito, a paciência de Jó tornou-se proverbial. Se hoje, à luz da doutrina evangélica, encontramos motivos de conforto bem mais eficazes do que os que Jó podia encontrar na luz imperfeita da razão e mesmo da antiga lei, tanto mais valem a sua heróica resignação e constância sob o peso de tamanhas desgraças.

Salmos

É uso vindo das Bíblias gregas e latinas, chamar Salmos aos cânticos sagrados que os hebreus, e também os gregos e os latinos, bem como as nossas antigas vulgarizações, com mais propriedade intitulam hinos. São poesias religiosas de argumentos variados, o mais das vezes orações ou louvores a Deus.

A coleção desses hinos, chamada, por analogia, Saltério, nas Bíblias hebraicas divide-se em cinco livros, separados entre si pela doxologia ou aclamação ("Bendito seja o Senhor" etc.), que se lê no final dos salmos 41,72,89,106. Mas é divisão recente, introduzida, ao que parece, por volta do séc. III a.C. Em tempos mais remotos, compunha-se de três grandes coletâneas, que se distinguem pelo emprego dos nomes para invocar a divindade. A 1ª (Salmos 1:40) e a 3a. (91-150) empregam Senhor (hebr. "Javé"), a 2a (41-88), Deus (hebr. "Eloim").

Distingue-se ainda pelos nomes dos autores, que cada salmo traz no cabeçalho. Na 1ª, quase todos os salmos, exceto 1,2,32, são intitulados de Davi; na 2ª são três séries, intituladas, respectivamente, dos filhos de Coré, ou coreítas, de Davi e de Asaf; na 3ª quase todos os salmos são anônimos. Com os títulos, varia também o teor geral do argumento.

Os salmos atribuídos a Davi são, em máxima parte, pedidos de auxílio em todas as aflições, de modo especial nas enfermidades e nas perseguições. Os cantos dos filhos de Coré, conforme sua condição de levitas (cf. Núm 16:1), têm por tema central o culto, o templo, a cidade santa. Os de Asaf são cânticos nacionais ou didáticos, que celebram o triunfo ou deploram as derrotas de todo o povo, ou têm por fim ensinar verdades morais. A coleção anônima compõe-se na maioria de hinos de louvor ou de ações de graças ao Senhor. Nela sobressai também uma coletânea particular de salmos breves, chamados graduais (119-133), de índole levítica.

Do exposto infere-se que a atual coleção de salmos ou Saltério, foi se formando aos poucos, desde os tempos de Davi (cerca de 1000 a.C). até depois de Neemias (cerca de 400 a.C.). Em todo esse longo período, em todas as gerações, os piedosos poetas, inspirados por Deus, transfundiram nos salmos os seus santos afetos, suas fervorosas súplicas, os transportes de sua alma profundamente religiosa. Destarte, recolhendo o Saltério o eco de todo um povo e de tantos séculos, era, por natureza, apto a se tornar, como de fato se tornou, o livro de orações, o manual de piedade, primeiro para a Sinagoga israelita, depois para toda a Igreja cristã.

Muito importantes, relativamente aos nossos conceitos, são dois vocábulos que raramente aparecem nos títulos, mas são freqüentes no texto dos Salmos: "tefilã = súplica" e "tehilã = louvor." É assim que são designados os gêneros mais freqüentes dos Salmos. No primeiro, na súplica, que compreende mais de um terço de todo o Saltério, um indivíduo ou (mais raramente) a nação, assaltado por males de toda a espécie, recorre a Deus para deles se livrar. Destarte, na sua abundância e variedade, os salmos oferecem modelos de oração para todas as circunstâncias da vida humana. O outro gênero, de louvor ou hino a Deus, era indicado de maneira especial para o culto público nas funções religiosas do templo e está concentrado sobretudo nos livros IV e V. Em menor número é os salmos didáticos ou sapienciais e morais, cheios dos mais diversos ensinamentos para a vida, e os salmos históricos, que rememoram, para exaltação de Deus ou ação de graças, ou para ilustração dos pósteros, os grandes acontecimentos da vida nacional. Restam ainda salmos que escapam a qualquer categoria, tão grande é a variedade desta nobilíssima antologia de poesia religiosa.

Para melhor lhe saborear toda a beleza e experimentar a eficácia, esforce-se o leitor por se apossar dos sentimentos e afetos expressos pelo texto sagrado. Se alguma passagem, como nos chamados salmos imprecatórios (58-69; 83;109), parece dura e chocante para almas acostumadas à suavidade evangélica (cf. Mt 5:43), lembremos o zelo puro pela justiça e honra de Deus que animava os autores sagrados (cf. 5:11; 69:10; 139:21), e poderemos manifestar para com o pecado todo o rigor da antiga lei, ao passo que reservaremos toda a caridade e a misericórdia da nova lei para o pecador.

Provérbios

Entre os hebreus, como em todas as nações, eram correntes os provérbios vulgares, patrimônio comum da sabedoria popular. Por exemplo: "Dos maliciosos procede à malícia" (1Sam 24:14) ou: "Tal mãe, tal filha" (Ez 16:44). Bem superior a este gênero popular eleva-se o provérbio douto, o "masal" dos sábios, fruto da reflexão, digamos filosóficas. É uma sentença breve e conceituosa que, sob forma sutil e freqüentemente figurada, dita ensinamentos úteis para a vida. Sua origem e nome parece ter sido a semelhança ou comparação (tal o sentido primitivo da palavra "masal"; exemplos: 26:1-2), passada, portanto, para o sentido de comparação ou semelhança abreviada (p. ex., 25:25-26) para a antítese (10:1-5) e, enfim, para o dito sentencioso em geral. Na sua expressão mais pura, consta de duas frases ou hemistíquios paralelos, o segundo dos quais corresponde ao primeiro numa das diversas maneiras de paralelismo poético. É a forma com que se expressava comumente a filosofia elementar e prática dos hebreus, conhecida com o nome de "Sabedoria." Os escritos em que foi consignada formam a literatura propriamente sapiencial, que podemos chamar de poesia gnômica.

Composto em grande parte desses ditos, em forma de masal, é deles que toma nome o presente livro dos Provérbios. O argumento e a finalidade estão claramente expostos nos versos iniciais (1:1-6).

Observando-se com atenção, notar-se-á sem dificuldade que o fundo ou corpo do livro é formado por duas coleções de sentenças salomônicas (10:1-22, 16 e 25-29), às quais os capítulos 1-9 servem de introdução e que as outras coleções menores constituem, às vezes, como que apêndices. Esta a razão por que o livro, tomando o nome do autor principal, é chamado, no título (1:1), e com ele na linguagem eclesiástica, Provérbios (ou sentenças) de Salomão.

Este breve esboço pode dar uma idéia da riqueza e da variedade que este livro apresenta sob o duplo aspecto da matéria. e da forma. Pode-se dizer que à vida toda da antiga sociedade israelita é passada revista, analisada, julgada segundo uma moral toda impregnada de bom senso e praticidade. As fontes desta moral são a experiência e a religião. Da experiência, mestra da vida, o autor sagrado tira lições práticas, ou recolhe simplesmente os fatos (20:4). A religião, ainda que não seja sistematicamente exposta, quer nos seus fundamentos dogmáticos, quer nas suas práticas cultuais (em geral os Provérbios não querem ser uma exposição sistemática da moral, mas sim ditames práticos), todavia é sempre pressuposta, ou, é posta como base de toda a moral (1:7; 9:10; 14:2 etc). e declarada fonte de toda a verdadeira felicidade (14:26-27; 15:16). Muitas e muitas vezes são inculcados nesta obra os grandes fundamentos de uma moral íntima, forte e convicta, como, p. ex., a de que Deus tudo vê (5:21; 15:3-11), tudo toma em consideração até os mais recônditos sentimentos do coração (16:2; 17:3), tudo governa (20:12-24; 22:2; 29:13) e tudo pode (19:21; 21:30) ; que longe de Deus não pode haver bem (15:29), que se entregar a ele é encontrar a força, a sabedoria, a alegria (3:5;16:20;18:10 etc.). Quanta eficácia na simplicidade da expressão do motivo tão freqüentemente repetido para afastar do vício: "desagrada a Deus, Deus o abomina" (3:32;11:1-20;12:22; 24:18 etc.).

É com razão, portanto, que a Igreja considera os Provérbios uma pérola entre os livros inspirados por Deus. Evidentemente, não podemos esperar encontrar nos ditos do Sábio toda a sublime elevação da moral evangélica, mas são-lhe uma boa preparação, e não raro muito se lhe aproximam. Razão por que freqüentemente os apóstolos e o próprio Jesus Cristo repetiram formalmente os Provérbios (Jo 7:38; Rom 12:20; Tg 4:6) ou os seus ensinamentos (cf. Lc 14:10 com Prov 25:7; 1Pdr 4:8 e Tg 5:20 com Prov 10:12).

Eclesiastes

Singular entre todos os livros do Antigo Testamento é, sob diversos aspectos, o presente. Seu título, Eclesiastes, é a tradução grega do nome hebraico, que no próprio texto designa-lhe o nome, isto é, Cohelet, particípio (feminino) do verbo "cahal," cujo significado é "reunir, convocar." E porque em grego "ecclesiastes" significa também "orador que fala na assembléia," certo tempo acreditou-se que esse livro fosse um discurso, um sermão feito ao povo israelita em assembléia pública. Mas, na realidade, o presente opúsculo nada tem de oratório, e deve ser incluído no gênero de filosofia fragmentária, que, com o título de "Pensamentos," é conhecida também nas literaturas profanas, antigas e modernas.

Dada essa índole geral do livro, não causará maravilha o fato de não se encontrar nele uma ordem estritamente lógica no desenvolvimento das idéias. Os intérpretes também discordam entre si na divisão das diversas matérias.

O Eclesiastes é misto de reflexões em prosa e de sentenças em versos. São seis ordens de reflexões intercaladas por cinco grupos de sentenças, com um prólogo que precede o corpo da obra e um epílogo que o encerra. O argumento geral da reflexão é a vaidade das coisas humanas; a insensatez da excessiva solicitude pelos bens terrestres, marcadamente as riquezas e os prazeres; a moderação em todas as coisas, quer na busca do bem-estar e da própria virtude, quer na fruição das alegrias que Deus difundiu na vida presente.

O livro todo é matizado de suave colorido de serena melancolia e profunda compaixão pelos sofrimentos humanos, o que o torna poderosamente simpático. Sua doutrina valeu-lhe a tacha de cético e epicureu, mas não passa de julgamento superficial e errôneo. Não obstante Cohelet deplore em muitos pontos a ignorância humana, causa de não poucas aflições, e a impotência da razão para solucionar os mais cruciantes problemas da vida e para dar a felicidade plena, não negam, todavia, a possibilidade de chegar a certo conhecimento de muitas coisas, e, sobretudo, tem uma fé inabalável em Deus e na sua ação no universo e na sociedade humana. Convidando-nos a gozar dos bens desta vida com a devida moderação, honestidade e gratidão para com o Doador, bem longe está de pôr o fim da existência no prazer, e ensina. também uma virtude, se bem que nem toda a virtude. Sua moral não é perfeita, como tampouco o era a lei antiga (Hebr 7:19), mas é sadia e proporcionada aos tempos do autor. Ainda hoje ela é capaz de inspirar magnânimos propósitos a um coração cristão.

A linguagem e o estilo do Eclesiastes distinguem-se entre todas as páginas do Antigo Testamento pelos vocábulos e construções de uma era bastante tardia, e formam como que a transição entre o hebraico da era clássica e o do Talmude (séc. II-V d.C.). Muito se discutiu sobre quem seja o autor. Pode-se ao certo, dizer que foi um mestre de sabedoria popular (12:9), e que Cohelet foi seu nome literário ou acadêmico, e não próprio.

Outra questão ainda debatida é se na composição do livro além de Cohelet tenham tomado parte outras mãos (unidade ou pluralidade de autores). Pode-se facilmente conceder que o epílogo (12:9-14) tenha sido acrescentado pelo editor do livro, presumivelmente um discípulo do próprio Cohelet. Mas será necessário, para explicar a variedade e às vezes o choque de sentimentos que se notam em todo o livro (cf. p. ex., 2:15-17 com 7:19-24; 3:6-19; 7:2-4 com 2:2 e 8:15; 8:10-13; 11:9), supor, como o fazem alguns modernos, que no opúsculo, radicalmente pessimista e deleitoso de Cohelet, outros, como, por exemplo, um sábio ou piedoso fiel, tenham inserido sentenças morais, a fim de temperar-lhe a crueza? Não parece; o gênero literário dos "Pensamentos" e o humor pessoal de Cohelet, levado a refletir sobre os vários aspectos das coisas humanas e a passar de um a outro afeto, bastam para dar uma explicação adequada aos vários matizes que no Eclesiastes se alternam ou temperam, aumentando-lhe o valor e a atração. Ademais um mesmo é o estilo, tão característico, no livro inteiro; mesmo é o Espírito, que lhe garante cada palavra.

Cântico dos Cânticos

O Cântico, ou, como de costume se traduz literalmente do hebraico, o Cântico dos Cânticos, apresentasse-nos na estrutura de pequeno poema, entre o lírico e o dramático, no colorido de um idílio e com o teor de um cântico de amor, qualidades essas que lhe conferem um lugar todo particular nas Sagradas Escrituras, ao passo que pela elegância literária deve ser posto entre as mais preciosas páginas da pura poesia hebraica. Se, porém, cantasse propriamente amores profanos, não teria sido por certo jamais inserido entre os livros inspirados das Escrituras. Foi, portanto, tradição constante e unânime da Sinagoga judaica, como o é da Igreja cristã, que no Cântico, sob a alegoria de amores profanos, celebra-se o amor mútuo entre Deus e seu povo, entre Deus e o fiel piedoso. Somente o racionalismo moderno tentou despojá-lo dessa auréola divina, reduzindo-o a um eco de simples amores profanos. Com essa atitude, porém, ele levantou para si uma barreira que lhe impede a reta compreensão do livro.

A alegoria, admitida comumente por cristãos e judeus, não foi, porém, interpretada de igual maneira, e há muitos e diversos sistemas de interpretação. Destas, a que se segue parece, a um só tempo, a mais simples e a que melhor corresponde aos dados intrínsecos do livro e às condições históricas do antigo Israel.

A ação do Cântico é uma parábola e um contraste: uma parábola de fundo idílico, e um contraste entre duas vidas, entre dois amores. Uma ingênua pastorinha, alcunhada a Sulamita (6:12; 7:1), ama intensa e ternamente um jovem pastor, seu coetâneo e conterrâneo, pelo qual é cordialmente correspondida no amor: os dois protagonistas são chamados, no texto, "amado" e "amiga" respectivamente (só em 4:8-9, "irmã" ou "esposa"), mas pelo uso comum também "esposo" e "esposa." O afeto mútuo é estreitado pelo arroubo comum diante da vida inocente dos campos e ante o encanto da natureza virgem. É o idílio.

Com esta vida simples e pura, contrasta a vida da cidade com suas comodidades, a corte com suas seduções, um rei potentado (simbolizado aqui e ali por Salomão, o mais rico e faustoso monarca que a história de Israel conheceu), o qual desejaria atrair a jovem pastora ao seu amor, à honra de ser sua consorte. Mas a generosa donzela recusa desdenhosamente as ofertas do rico soberano e sente-se satisfeita com a vida simples dos campos, desejando permanecer para sempre fiel ao seu pastor, único objeto dos seus castos amores.

Isso tudo entremostra a alma de Israel posta em risco entre a fidelidade à sua religião austera e os deslumbrantes esplendores da civilização pagã; entremostra toda alma fiel, atraída pelos amores antagônicos de Deus e do mundo. De fato, embora o povo de Israel, pela sua doutrina religiosa e moral, superasse incomparavelmente qualquer outro povo da antigüidade, é, todavia, inegável que, na civilização material e em poderio político, ficava muito aquém dos poderosos impérios vizinhos do Egito, da Assíria, da Grécia, com os quais a sua história o colocou num contato quase contínuo. Essa esmagadora superioridade das nações-pagãs podia ser um escândalo para as almas fracas, podia, pelo menos, perturbar as almas piedosas, e debilitar, se não abalar, o seu apego a Deus, à religião avita. Dão-no-lo a entender não poucas páginas da Sagrada Escritura, como Dt 17:14-20; 2Rs 18:17-37; Jer 2:18; Bar 6; 1Mac 1:12-15. O próprio Salomão, que promoveu mais do que qualquer outro a cultura civil em Israel e imitou o fausto e a moleza das cortes orientais (1Rs 10:14-11:13), e foi, sem dúvida, um sério perigo para a religião. A fim de fortalecer os espíritos no amor ao culto severo dos antepassados, e para precavê-los contra a sedução da deslumbrante civilização pagã, o Cântico descreve, nos seus castos e jucundos amores da Sulamita para com seu amado, a felicidade do povo eleito na fidelidade ao seu Deus.

Sabedoria

Entre todos os livros didáticos do Antigo Testamento, o presente traz por excelência o título de Sabedoria porque canta mais longamente e com acentos mais sublimes do que qualquer outro o elogio da verdadeira sabedoria, que tem por objeto a verdadeira religião e a virtude, mas o seu princípio no próprio Deus. Este conceito liga, como fio de ouro, numa maravilhosa unidade, as variedades notáveis das cinco partes, sensivelmente iguais, que compõem o livro.

1a - Admoestação a praticar a justiça e a religião, e como motivo para assim agir, a oposição entre a sorte final dos bons e dos maus, prêmio dos justos e castigo dos ímpios na vida futura (1-5).

2a - Elogio da Sabedoria pelas suas qualidades intrínsecas e pelos bens que proporciona ao espírito humano. Fala Salomão (6-9).

3a - Qualidades da Sabedoria patenteadas na história sagrada; bens que a Sabedoria trouxe aos patriarcas desde Adão até Moisés (10-12).

4a - Origem, insensatez e imoralidade da idolatria (13-15) : animismo (13:1-9); fetichismo (13:10-14:11); divinização de homens (14:12-20); corrupção profunda (14:21-31) ; a religião de Israel e o politeísmo egípcio (15).

Ao tomar e desenvolver o seu argumento, o autor sagrado teve por finalidade imediata confirmar na fé e na prática da santa religião os judeus do Egito, sustentá-los nas opressões, que por causa dela deviam sofrer, e preservá-los da sedução, que sobre eles podia exercer a brilhante civilização pagã sob a dinastia grega dos Ptolomeus.

Com efeito, não pode haver dúvidas de que o livro foi escrito primitivamente em grego, idioma usado pelos judeus do Egito, especialmente em Alexandria, nos últimos séculos que precedem a era vulgar. Nota-se nele não só o colorido grego da língua e do estilo, mas também o reflexo das escolas filosóficas e dos costumes da douta Grécia pagã.

Estes reflexos indicam aproximadamente a época em que viveu o autor. Já que no seu tempo (como se releva de 2:10-3,4; 5:1) os judeus tinham que sofrer bastante, quer da parte dos pagãos, quer dos seus correligionários apóstatas, podemos precisar esta época um pouco melhor. É historicamente fundado o fato de que nos reinados de Ptolomeu Alexandre (106-88 a.C). e Ptolomeu Dionísio (80-52 a.C) tiveram lugar no Egito sublevações populares contra os judeus.

O livro, portanto, deve ter sido escrito entre os anos 100 e 50 a.C.

Autores houve que pretenderam baixar a idade até à época romana, (30 a.C). e na antigüidade algum escritor, segundo S. Jerônimo (Pref. aos liv. de Salom,), atribuiu-o a Fílon hebreu (cerca de 20 a.C. - 40 d.C.). Mas o livro da Sabedoria versa com demasiada insistência e predileção sobre fatos e costumes especificamente egípcios, para se poder referi-los a povos e soberanos cuja sede não se achava no Egito. Além disso não se pode afirmar que os romanos houvessem "tiranizado o povo de Deus" (15:14) antes de Vespasiano e de Tito (70 d.C.). Também as doutrinas e o estilo diferem notavelmente dos de Filon. Pode-se, isto sim, colocar o autor do presente livro entre os primeiros e mais ilustre mestres daquela escola judaica de Alexandria, da qual Fílon foi mais tarde o astro mais luminoso.

Verdade é que nos cc. 7-9 o autor fala e escreve como se fora Salomão, rei de Israel, que reinou em Jerusalém no séc. X a.C. (cf. 1Rs 3:5-12) e por isso nos códices gregos o livro tem ordinariamente o título de Sabedoria de Salomão. Mas isto é um inócuo artifício literário empregado nas antigas literaturas, uma espécie de prosopopéia, visando a dar ao discurso maior atração e eficácia, tomando para tanto o tom de insigne personagem antiga.

Este artifício humano nada tira à autoridade divina do livro, isto é, à sua inspiração, que é assegurada não só pelo magistério da Igreja, mas também pelo uso que do presente livro fizeram os autores do Novo Testamento, os quais, se o não citaram nominalmente, apropriaram-se de pensamentos e construções que lhe são próprios. Confrontem-se, por exemplo, principalmente, Sab 12:12-22, com Rom 9:19-23; Sab 9:15 com 2Cor 5:4; Sab 3:5-6 com 1Pdr 1:6-7; Sab 7:25-26 com Hebr 1:3; Sab 7 em geral com Jó 1.

Eclesiástico

O presente livro, que na Igreja latina, desde o fim dos primórdios (por exemplo, desde S. Cipriano até ao séc. III) passou a chamar-se o Eclesiástico por excelência, porque o mais notável dos livros lidos nas igrejas para instrução dos catecúmenos ou dos neocristãos, é o mais extenso e o mais rico de ensinamentos entre os livros do Antigo Testamento. Entre os gregos tem o nome de Sabedoria de Jesus, filho de Sirac, ou simplesmente Sirac, do nome de seu autor. No texto original hebraico, segundo testemunho de S. Jerônimo (Prefácio aos livros de Salomão), confirmado por citações de rabinos, chamava-se como o correspondente livro de Salomão, Provérbios do filho de Sirac (cf. 50:27). Mas entre os hebreus era também conhecido, como na versão siríaca, sob o título de Sabedoria, comum entre os gregos.

Efetivamente, o Eclesiástico (como o chamaremos, segundo o nosso uso) toma o argumento e a divisão da Sabedoria. Distinguem-se nele dez partes, começando todas com o elogio da Sabedoria ou com um hino a Deus, autor de toda a sabedoria; seguem-se dois pequenos apêndices.

No fim da 10a parte (50:27), como pós-escrito, o autor dá-nos o seu nome: Jesus, filho de Eleazar, filho de Sirac. O tradutor grego, que certamente andava bem informado, acrescentou-lhe a terra natal: jerosolimitano. Sirá (em grego "Sirac") parece mais o sobrenome de família do que de avô; daí o dizer-se muitas vezes sirácida. O tempo em que viveu nos é indicado por duas datas aproximativas. No próprio livro (c. 50), Sirac nos descreve Simão, filho de Onias, o sumo sacerdote, com cores tais, que demonstra muito bem tê-lo visto e admirado ocularmente no exercício de suas sagradas funções. Dos dois sumos pontífices que trouxeram este nome, o primeiro dos quais viveu por volta do ano 300 a.C. e o segundo um século mais tarde, deve-se por certo entender o segundo. Com efeito, o tradutor grego, que no prólogo à sua tradução declara-se neto do autor, informa-nos ter ido ao Egito por volta do ano 38 do reinado do Ptolomeu Evérgetes. Ora, visto que dos dois Ptolomeus que tiveram o nome de Evérgetes (I, 247-222; 11, 171-117 a.C) só o II alcançou e superou o ano trigésimo oitavo de reinado (iniciado em 171 a.C), assim aquela data leva-nos ao ano 132 a.C. Entre este e a época de Simão II (219-199 a.C) passam-se exatamente duas gerações, que são as que intercorrem entre avô e neto. Jesus, filho de Sirac, viveu, portanto, entre os séc. III e II a.C, e deve ter escrito o seu livro entre os anos 200 e 180 a.C.

Escreveu em hebraico, mas o texto original, visto por S. Jerônimo (Prefação acima mencionada) e muitas vezes citado por escritores judeus da Idade Média, havia séculos estava perdido, até que, entre 1896 e 1900, foram encontrados cerca de dois terços do mesmo (3:8-16; 26:30-33; 35-fim), além de poucos trechos intermediários num escaninho de uma velha sinagoga no Cairo em fragmentos de cinco manuscritos diversos. Porém encontra-se num estado formal bem menos satisfatório do que o texto hebraico dos livros protocanônicos. Amánuenses e recenseadores permitiram-se muito mais liberdade ou negligência com o livro de Sirac do que com as Escrituras do cânone hebraico. Por isso maior valor do que de ordinário têm também as duas antigas versões independentes, a grega e a siríaca, especialmente a primeira.

O livro foi traduzido para o grego pelo neto do próprio autor, pelo fim do séc. II a.C, como, aliás, ele mesmo nos informa no prólogo da sua versão.

Este prólogo é importante, não só porque nos oferece as datas da composição e da tradução do livro, mas ainda porque nos mostra como no séc. II a.C os livros sagrados do Antigo Testamento já se distinguiam, entre os judeus, nas três ordens que passaram a ser depois tradicionais: lei (Pentateuco), profetas e escritos, e como cada uma dessas ordens estava traduzida, ao menos em boa parte, para o grego. Da versão grega do Eclesiástico, além do texto comum e mais castiço, que se encontra no códice Vaticano 1209 (B), eram correntes também, códices dos quais ainda restam, com não poucas edições da primeira parte (1-26). Com base num desses códices foi feita a tradução latina da Vulgata