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"Não basta fazer coisas boas. É preciso fazê-las bem.!"

26/02/2011

A CONVERSÃO DE PAULO.


Paulo, sua origem e família

Para satisfazer as exigências e qualificação de propriedade exigida aos cidadãos de Tarso, subentende-se que a família de Paulo se enquadraria naquilo que chamamos hoje de classe média alta (SANDERS, 1999, p. 14). De origem benjaminta, recebeu o nome de Saulo (hb. Sha'ul). Nascido em Tarso, orgulhava-se de sua cidade: "Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas falar ao povo." (At 21.39). O nome latino Paulus lhe foi acrescentado em razão da cidadania herdada do pai (At 22.28). Tinha uma irmã que habitava em Jerusalém (At 23.16). Herdou, tudo indica do pai, a profissão de fabricante de tendas (At 18.3).

Paulo, sua educação religiosa e secular

A formação educacional religiosa de Paulo aconteceu, como todo garoto hebreu, no lar ou em uma escola ligada à sinagoga. Numa perspectiva bíblica judaico-cristã, observamos este tipo de educação nos seguintes textos:

"E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas." (Dt 6.6-9)

Percebe-se neste texto do Antigo Testamento, a participação e a importância da família na preservação dos valores espirituais e morais do povo judeu, valores que foram zelosamente guardados por Paulo.

A figura dos agentes especialmente destinados para a tarefa de ensinar surge com a instituição do sacerdócio;

"E falou o Senhor a Arão, dizendo: Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações; E para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, E para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado por meio de Moisés." (Lv 10.8-11)

"No terceiro ano do seu reinado enviou ele os seus príncipes, Bene-Hail, Obadias, Zacarias, Netanel e Micaías, para ensinarem nas cidades de Judá; e com eles os levitas Semaías, Netanias, Zebadias, Asael, Semiramote, Jônatas, Adonias, Tobias e Tobadonias e, com estes levitas, os sacerdotes Elisama e Jeorão. E ensinaram em Judá, levando consigo o livro da lei do Senhor; foram por todas as cidades de Judá, ensinando entre o povo." (2 Cr 17.7-9)

Posteriormente, os profetas assumem também essa tarefa;

"E foram cinqüenta homens dentre os filhos (discípulos) dos profetas, e pararam defronte deles, de longe; e eles dois pararam junto ao Jordão." (2 Rs 2.7)

"Respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros." (Am 7.14)

Durante e após o período do cativeiro na Babilônia, surge a figura do escriba, uma classe de mestres especializados, que copiavam, interpretavam e ensinavam a Lei;

"este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés, que o Senhor Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira. [...] Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar e cumprir a lei do Senhor, e para ensinar em Israel os seus estatutos e as suas ordenanças." (Ed 7.6, 10)

Com o advento das grandes cidades, da escrita, das transformações técnicas, da produção excedente, da comercialização, dos inovadores pensamentos sobre política e democracia, a educação e a escola ganharam um novo formato. É no período da Grécia clássica que acontece algumas das grandes revoluções pedagógica. A pólis, no intuito de formar os seus cidadãos, criam escolas especializadas para atender as suas demandas. No geral, a criança permanece em casa, com a família, até os sete anos. Após esse período, o Estado assume a sua educação (preparo físico, educação musical, formação cívica e militar, leitura e escrita, gramática, retórica etc.).

Podemos observar, que apesar destas mudanças significativas, de onde surgem as nossas escolas modernas e as teorias pedagógicas, a Bíblia nos relata que a participação da família, em especial na formação dos valores espirituais e morais de seus filhos, ainda permaneceu nos dias de Paulo:

"trazendo à memória a fé não fingida que há em ti, a qual habitou primeiro em tua avó Loide, e em tua mãe Eunice e estou certo de que também habita em ti." (2 Tm 1.5)

"Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus." (2 Tm 3.14-15)

Sanders (idem, p. 15) sugere que devido ao fervor religioso de seus pais, sua educação não foi confiada a professores gentios. Paulo foi discípulo de Gamaliel (At 22.3), um respeitado rabino, dentre sete, aos quais era conferido o título honroso de doutores da lei. Gamaliel era da escola Hilel, que tinha um posicionamento moderado acerca de questões como às leis de sábado, o casamento e o divórcio (PFEIFFER; VOS; REA, 2006, p. 839). O doutor Gamaliel se interessava ainda pela literatura grega e incentivava os judeus a se relacionarem com os estrangeiros (SANDERES, ibid. p. 17). É provável que essa educação moderada tenha influenciado sua conduta junto as gentios após a sua conversão, tolerância essa que não foi vivida em seu trato com a igreja antes de seu encontro com Jesus (At 22.4-8).

Sua formação secular pode ter envolvido a educação filosófica normal e a retórica (CHAMPLIN, 2001, p. 121). Foi um poliglota, sendo conhecedor do hebraico, aramaico, grego e latim, podendo ter aprendido outras línguas em suas viagens missionárias.

Paulo, sua conversão

A história da conversão de Paulo é narrada em Atos 9.3-19; 22.6-21 e 26.12-18, com pequenas variações nos relatos. A data de 35 D.C. é sugerida por alguns (CHAMPLIN, idem, p. 122). Alguns críticos atribuem ao evento da conversão algum desequilíbrio mental, ataque de epilepsia, insolação ou algum tipo de transe (WILLIAMNS, 1996, p. 191; KISTEMAKER, 2006, 434). Conforme Champlin (ibdem, p. 122):

"Outros críticos supõem que o senso de culpa, reprimido durante anos, em face de suas perseguições e assassínios contra os cristãos, teria subitamente explodido em experiências pseudomísticas, o que resultou em vir a ser ele justamente o contrário do que vinha sendo, ou seja, a sua conversão. Assim sendo, ainda segundo esse ponto de vista, a experiência de Saulo poderia ter sido meramente psicológica, e não verdadeiramente mística. Ora, nesse caso, Lucas, o autor do livro de Atos, teria exagerado em suas narrativas, adornando com um colorido mais vivo a realidade da vida de Paulo."

Apesar dos questionamento de alguns críticos e eruditos modernos, a conversão de Paulo foi um fato histórico, uma realidade objetiva.

A conversão de Paulo, aparentemente súbita, teve algum evento anterior com precussor? alguns argumetam que sim:

"Enquanto as narrativas em Atos, assim como as notas nas cartas, parecem indicar sua 'súbita' conversão, alguns argumentam que certas experiências devem tê-lo preparado previamente. Seu consentimento na morte de Estevão (At 7.58-8.1), e o fervor da sua campanha de casa em casa contra aqueles do Caminho (At 8.3; 9.1-2; 22.4; 26.10, 11) dificilmente não o afetariam; sua furiosa jornada em direção a Damasco representou o clímax dos seus esforços." (PFEIFFER; VOS; REA, idem, p. 1475)

"Entretanto, creditar a conversão de Saulo à iniciativa de Deus pode, facilmente, causar mal-entendidos, e precisa receber dois esclarecimentos: a graça soberana que conquistou Saulo não foi repentina (no sentido de que não teria havido preparação anterior) nem compulsiva (no sentido de que ele não tinha opção)." (STOTT, 2003, p. 191)

Outros entendem o evento como um acontecimento súbito: "A conversão de Saulo é exclusivamente obra de Jesus por meio de súbita intervenção na vida de seu inimigo." (BOOR, 2003, p. 141)

Se súbita ou resultado de uma sequência de experiências e eventos, o fato é que a vida de Paulo foi mudada e transformada radicalmente pelo poder da Palavra do Senhor e do seu Santo Espírito.

Paulo, sua vocação e obra

"Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;" (Atos 9.15)

Após convertido, Paulo tomou consciência de seu chamado para o serviço, Tal fato é testemunhado por ele próprio em 1 Coríntios 15.8-9, Gálatas 1.12-17, Fl 3.3-7 e 1 Timóteo 1.12-16. Sanders (idem, p. 29), compreende que "desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente sabia que era um veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria sua revelação, mas tinha uma ideia geral do que Deus havia planejado para o seu futuro [...]."

Kistemaker (idem, p. 447), nos apresenta cinco razões para a sua escolha nas tarefas que o Senhor lhe deu:

- Sua excelente instrução no judaísmo;
- Sua criação num ambiente de fala grega;
- Sua familiarização com a cultura helenista;
- Sua capacidade de contextualizar do Evangelho;
- Sua cidadania romana e conhecimento da vasta complexidade de estradas no império que facilitariam as suas viagens

M. Blaiklock (apud KISTEMAKER, idem), chega a afirmar:

"Nenhum outro homem conhecido na história daquele tempo possuía todas essas qualidades combinadas como Paulo de Tarso. É difícil imaginar algum outro lugar (além de Tarso) onde a atmosfera sadia e a História pudessem tão eficientemente produzi-las numa pessoa".

Apesar de questionado por muitos, o apostolado de Paulo foi legítimo (2 Co 11.5; G, 1.15-17).

Com um trabalho missionário de cerca de 10 anos, que alcançou a Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia, e com 13 epístolas compondo o cânon do Novo Testamento, a importância da obra de Paulo para o cristianismo é de um valor inestimável.

Deus tem o homem certo, para a obra certa.

Paulo, seu sofrimento

"pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome". (At 9.16)

A chamada para o ministério cristão é uma chamada para o sofrimento. Viver segundo a palavra de Deus e pregar esta palavra implica em muitas perseguições e dores. Paulo foi um claro exemplo dessa realidade. Em 2 Coríntios 11.24-28 alguns desses sofrimentos são listados:

- Muitos trabalhos

- Muitas prisões

- Açoites sem medidas

- Perigos de morte

- Trinta e nove chicotadas em cinco ocasiões

- Três pisas com vara

- Um apedrejamento

- Três naufrágios

- 24 hs boiando no mar

- Muitas jornadas

- Perigos de ladrões

- Perigos de rios

- Perigos de perseguições por judeus e não-judeus

- Perigos na cidade

- Perigos nos desertos

- Perigos em alto mar

- Perigos entre os falsos irmãos

- Muitos trabalhos e canseiras

- Muitas noites sem dormir

- Fome e sede muitas vêzes

- Falta de casa, comida e roupa

- Muitas preocupações com as igrejas do Senhor

Marshall (idem, p. 166) declara que "o Livro de Atos não esconde o fato de que o fiel testemunho a Jesus é uma tarefa custosa em termos do sofrimento que pode acarretar para quem leva as boas novas".

O conforto de Paulo estava em seu modo de lidar com o sofrimento: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós." (Rm 8.18)

Paulo, sua morte

Há praticamente unanimidade no fato de que Paulo terminou os seus dias em Roma (BRUCE, 2003, p. 429). Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.), em sua História Eclesiástica (2003, p. 76) escreve que:

Dessa maneira, aclamando-se publicamente como o principal inimigo de Deus, Nero foi conduzido em sua fúria a assassinar os apóstolos. Relata-se, portanto, que Paulo foi decapitado em Roma e que Pedro foi crucificado sob seu governo. E esse relato é confirmado pelo fato de que os nomes de Pedro e Paulo ainda hoje permanecem nos cemitérios daquela cidade.

O ano de 65 D.C., é uma data provável para a sua execução (CHAMPLIN, ibdem, p. 125).

Dessa forma, aquele que é considerado o maior e mais influente cristão da história, combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé (2 Tm 4.7).

A conversão de Paulo se reveste para mim de um caráter muito especial, uma vez que o ponto alto de minha conversão, no ano de 1988, aconteceu enquanto lia o capítulo 9 de Atos dos Apóstolos. Costumo dizer que juntamente com Paulo caí prostrado diante da voz, me redendo de joelhos aos pés daquele que é Senhor sobre tudo e sobre todos, que segundo a sua graça soberana escolhe os mais miseráveis pecadores para realizar a sua maravilhosa obra!

25/02/2011

Livro de Salmos


Salmos ou Tehilim( do hebraico תהילים, Louvores) é um livro do Tanakh (fazendo parte dos escritos ou Ketuvim) e da Bíblia Cristã, vem depois do Livro de Jó e antes do Livro dos Provérbios.[1][2] Constitui-se de 150 (ou 151 segundo a Igreja Ortodoxa) cânticos e poemas que são o coração do Antigo Testamento, é a grande síntese que reúne todos os temas e estilos dessa parte da Bíblia[3], utilizados pelo antigo Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e hoje são utilizados como orações ou louvores, no Judaísmo, no Cristianismo e também no Islamismo (o Corão refere os salmos como "um bálsamo"). Tal fato, comum aos três monoteísmos semitas, não tem paralelo, dado que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam nos Salmos que foram escritos em hebraico, depois traduzidos para o grego e latim.

Origens

A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei Davi, o qual teria escrito pelo menos 73 poemas. Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram uns nove e o rei Salomão ao menos dois. Hemã, com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo um cada. Todavia, 51 salmos seriam tidos de autoria anônima.

O período em que os salmos foram compostos varia muito, representando um lapso temporal de aproximadamente um milênio, desde a data aproximada de 1440 a.C., quando houve o êxodo dos Israelitas do Egito até o cativeiro babilônico, sendo que muitas vezes esses poemas permitem traçar um paralelo com os acontecimentos históricos, principalmente com a vida de Davi, quando, por exemplo, havia fugido da perseguição promovida pelo rei Saul ou quanto ao arrependimento pelo seu pecado com Bate-Seba.

Poemas de louvor, os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação por escrito teve lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado no exílio babilônico pelo profeta Ezequiel (séculos VII-VI a.C.). Como tal, muitos destes textos são muito anteriores, sendo bastante difícil a sua crítica do ponto de vista literário estritos. Ainda assim, tendo em conta a comparação com a literatura poética coeva do Egito, da Assíria e da Babilônia, pode-se afirmar que estes poemas de Israel são um dos expoentes da poesia universal.

Os salmos, em termos de conteúdo, possuem estrutura coerente, o que também pode ser observado em passagens do Antigo Testamento e em obras literárias do Oriente Médio daAntiguidade.[4]

Tal como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à música. Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de leitura, "todavia, dado o seu gênero literário, com razão são designados em hebraico pelo termo Tehillim, isto é, «cânticos de louvor», e, em grego psalmói, ou seja, «cânticos acompanhados ao som do saltério», ou ainda: oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais[3].

De fato, todos os salmos possuem um certo caráter musical, que determina o modo como devem ser executados. E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em silêncio, a sua recitação terá de conservar este caráter musical[5]

Os salmos acabaram por constituir um hinário litúrgico para uso no templo de Jerusalém, do qual transitaram quer para a sinagoga judaica, quer para as liturgias cristãs.

Na Igreja Católica, os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a chamada Liturgia das Horas, também conhecida por Ofício Divino e cuja organização remonta a São Bento de Núrsia. A oração conhecida por rosário, com as suas 150 Ave Marias, formou-se por analogia com os 150 salmos do Ofício.

Os salmos são também poesia, que é a forma mais apropriada para expressar os sentimentos diante da realidade da vida permeada pelo mistério de Deus, o aliado que se compromete com o homem para com ele construir a história. É Deus participando da luta pela vida e liberdade. Dessa forma, os salmos convidam para que também nós nos voltemos com atenção para a vida e a história. Nelas descobrimos o Deus sempre presente e disposto a se aliar, para caminhar na luta pela construção do mundo novo[3].

Os salmos supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história. Seu ponto de partida é o Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua luta pela liberdade e vida (Ex 3,7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os pobres e oprimidos têm no Deus aliado. Como esse Deus não aprova a situação dos desfavorecidos, o povo tem a ousadia de reivindicar seus direitos, denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até mesmo questionar o próprio Deus. São orações que nos conscientizam e engajam na luta dentro dos conflitos, sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou a alienação[3].

O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus orava os salmos, e sua vida e ação trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com Jesus Cristo para a transformação do mundo, em vista da construção do Reino[3].

Vários salmos são considerados pelos teólogos como proféticos ou messiânicos, pois referem-se à vinda do Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas noNovo Testamento com o propósito de provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus.[6]

O Salmo 150 constituiria uma doxologia, ou arremate de louvor do livro. [7]

]Variações entre as traduções

O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta) e hebraica. A versão grega deste livro, como de toda a bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e por São Jerônimo na confecção de sua edição "Vulgata", tradução latina dos livros inspirados. Na Reforma Protestante é que se buscaram os manuscritos originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a diferença que havia entre as duas traduções: as versões, apesar de terem o texto completo, diferem na numeração de capítulos e versículos.

Versículos

A versão grega costuma apresentar, na maioria dos salmos, um versículo de introdução, em que são atribuídas autorias e apontados instrumentos que deveriam ser utilizados ao se cantar os textos. Este versículo faz com que a versão hebraica tenha, nesses casos, um versículo a menos, uma vez que essas informações não são consideradas inspiradas por essa versão.

Capítulos

Em suma, pode-se dizer que entre os Salmos 10 e 148, a numeração da Bíblia Hebraica está uma unidade à frente da numeração seguida na Septuaginta e na Vulgata, que juntam: os Salmos 9 e 10 no Salmo 9 (da Septuaginta/Vulgata), e, os Salmos 114 e 115 no Salmo 113 (da Septuaginta/Vulgata); e dividem: o Salmo 116 nos Salmos 114 e 115 (da Septuaginta/Vulgata), e, o o Salmo 147 nos Salmos 146 e 147 (da Septuaginta/Vulgata)[8].

Veja a tabela abaixo:

1 a 8 1 a 8
9-10 9
11 a 113 10 a 112
114-115 113
116 114-115
117 a 146 116 a 145
147 146-147
148 a 150 148 a 150
Aplicação

No Judaísmo e no Protestantismo, a numeração usada sempre foi a hebraica.

A Igreja Católica, considerando oficial a tradução da "Vulgata", por muito tempo usou a numeração grega em suas bíblias. Porém, estudiosos consideram essa numeração errada, uma vez que certos salmos, que parecem ser um só, estão separados, enquanto outros, de assuntos bem diferentes, estão juntos. Vendo que a Vulgata era falha ao se basear somente num texto (Septuaginta), e no ínterim de novas descobertas das Escrituras (Manuscritos do Mar Morto), a Igreja permitiu a tradução das Escrituras diretamente dos originais (Constituição Dogmática Dei Verbum) e promoveu uma nova tradução e revisão da Bíblia (Neovulgata), que, desta vez, trouxe a numeração dos salmos a partir da versão hebraica, mas não resolveu a questão dos versículos introdutórios. A despeito desta nova tradução católica, é possível encontrar bíblias católicas que ainda se baseiam na Vulgata, por seu tradicionalismo, como é o caso da bíblia da Editora Ave Maria.

[Salmos Proféticos

Alguns salmos são considerados proféticos ou messiânicos pela Teologia cristã, pois apontam para a vinda do Messias, sendo com freqüência citados no Novo Testamento da Bíblia com o objetivo de identificar Jesus Cristo como o cumpridor da promessa.

No Salmo 2, que fala do reinado do Ungido de Deus, verificam-se algumas citações no livro de Atos e na Epístola aos Hebreus.

Já o Salmo 8 que fala da glória divina e da dignidade do Filho do Homem é citado no Evangelho de Mateus, bem como em algumas epístolas de Paulo.

Por sua vez, o Salmo 16 é uma referência à ressurreição de Cristo em seu verso 10, quando Davi assim profetiza:

"Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."

Por sua vez, o Salmo 22 fala do sofrimento e da vitória do Messias que se entende cumprido na crucificação de Jesus, principalmente devido aos versos 7 e 18 que, respectivamente, coincidem com a zombaria experimentada durante o martírio e a repartição das vestes pelos soldados.

Todos esses salmos foram proferidos pelo rei Davi, que teria governado Israel um milênio antes do ministério de Jesus.

Importante destacar que tais salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo é o mesmo.

[Os Salmos e a história de Davi

Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei Davi.

O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que Saul teria enviado homens à casa de Davi para prendê-lo. Já os Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto quando Davi encontrava-se escondido na caverna de Adulão, na região do mar Morto.

Ao terminar a perseguição de Saul, Davi compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade de Deus.

Quando é confrontado pelo profeta Natã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias, Davi compõe o Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.

Novamente ao ser perseguido, agora por seu filho Absalão, Davi ainda escreve os Salmos 3 e 7, o que revela sua confiança no livramento de Deus.

Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de Davi seriam o 52 (depois que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias), o 54 (quando os zifeus tentaram traí-lo), o 57 (enquanto se escondia em uma caverna) e o 63 (enquanto escondia-se no deserto de En-Gedi).

Importante alertar novamente que tais Salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo permanece o mesmo.

[]O tratamento musical dos Salmos na liturgia cristã

A história do canto do salmo na liturgia cristã corre paralela à história da liturgia, da música e das Igrejas cristãs. Após o desenvolvimento do salmo responsorial no século IV, a função do salmista acaba por se transformar num ministério próprio, mais tarde incluído até no clero local. No entanto, este ministério acaba por cair em desuso com a especialização crescente dos cantores e com a instituição das scholae, ao mesmo tempo em que a participação do povo se reduz.

Na missa, o salmo vê-se limitado a um único versículo, nas versões extraordinariamente elaboradas do gradual gregoriano, assim chamado por ser cantado dos degraus do altar. NoOfício Divino, o canto dos salmos recebe também o desvelo de gerações de compositores, que expressamente compõem algumas das obras-primas da música ocidental, em particular para o solene canto de Vésperas, como, por exemplo, Vespro della Beata Vergine Maria, de 1610, de Claudio Monteverdi, ou as Vesperae Solennes de Confessore, KV 339, deWolfgang Amadeus Mozart), mas onde muitas vezes, na prática, a oração cede lugar ao concerto.

Na Igreja Católica, o motu proprio Tra le Solecitudine de 1903, do Papa Pio X, exclui da liturgia os salmos "de concerto". Após o Concílio Vaticano II, é restaurado o salmo responsorial na missa, através da Instrução Geral do Missal Romano de 1969.

Origem: Wikipédia