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"Não basta fazer coisas boas. É preciso fazê-las bem.!"

16/08/2010

Missiologia Pentecostal




A Igreja tem várias tarefas, entre elas a evangelização e as missões. Mas o que é missões? Segundo o missiólogo presbiteriano Ronaldo Lidório, missões “é um movimento salvífico e kerygmático que parte do coração e da volição de Deus, revelado nas Escrituras, onde o Evangelho é prometido, no Messias, a todas as pessoas em todas as etnias espalhadas pelo mundo.”1 O teólogo assembleiano Claudionor de Andrade, define missões como a “transmissão consciente e planejada das Boas Novas de Cristo além das fronteiras nacionais e culturais.”2
A missão principal da Igreja é adorar a Deus, anunciar o evangelho a toda criatura e fazer discípulos por meio do ensino. A igreja evangélica só é evangélica se anunciar o evangelho.

Um pouco de história

O Brasil é o terceiro país protestante do mundo. Esse status deve-se ao trabalho de incansáveis missionários que atuaram no Brasil, desde dos primeiros calvinistas até ao grande trabalho dos pentecostais. Mas a obra missionária começou a atuar no Brasil, por meio de cristãos calvinistas, que chegaram ao país em 10 de novembro de 1555. Os primeiros pastores-missionários que chegaram ao Brasil formam os pastores franceses Pierre Richer e Guillaume Chartir e um seminarista chamado Jean de Lery, mandados pelo próprio João Calvino. O grupo de pastores chegaram no dia 10 de março de 1957, sendo assim, quase dois anos depois do primeiro grupo, que estavam sendo comandados pelos almirantes franceses Coligny e Villegaignon. O primeiro culto da América, realizado na chegada dos missionáriso, teve como leitura o Salmo 27.4 e a primeira Ceia do Senhor, celebrada na América, foi no domingo de 21 de março de 1557, pelo pastor Pierre Richer.
Esse primeiro grupo de missionários evangelizaram vários índios Tamoios, não por meio de um catecismo jesuíta, mas pela proclamação das boas novas. Chegaram a traduzir o Salmo 103 para a língua indígena, sendo a primeira tradução genuinamente brasileira. Devido as divergências com o almirante Villegaignon, ele traiu todos os pastores franceses instalados na colônia. Portugal, com ajuda de Villegaignon, expulsou os invasores franceses e matou vários protestantes que já estavam no Brasil, entre eles, o pastor Pierre, que foi estrangulado e lançado ao mar, na Baia de Guanabara. O sangue dos mártires foi derramado no Brasil (Terra de Vera Cruz), o primeiro país da América a receber missionários protestantes.
No século 19, os missionários europeus e norte-americanos começaram a desembarcar no Brasil católico e que considerava os protestantes de hereges. Dentro do Império Deus coloca como destaque, o casal inglês Robert e Sarah Kalley. Nesse tempo surge o primeiro missionário presbiteriano Ashbell Grenn Simonthon; os primeiros batistas como Thomas Jefferson Bowen, Richard Ratcliff e William Burk Bagby; os metodistas Justus E. Newman e John Ransom e outros protestantes de igrejas históricas e reformadas que chegaram no Sul e Sudeste do país.
Em 1906, explode na Califórnia um grande avivamento, o pentecostalismo da rua Azuza. O Movimento Pentecostal, logo enviou missionários por todo o mundo, sendo um despertamento missiológico muito forte. Dois jovens suecos chegam ao Brasil, influenciados pelo avivamento em Los Angeles, eram eles Daniel Berg e Gunnar Vingren. Esses jovens batistas desembarcaram em Belém do Pará, no norte do Brasil, fundando nessa cidade a Missão da Fé Apostólica, que depois passou a se chamar de Assembléia de Deus. Os pentecostais chegaram, também, por meio de um italiano chamado Luís Francescon, que fundou a Congregação Cristã do Brasil.

O pentecostalismo brasileiro e as missiologia autóctone

A Assembléia de Deus no Brasil, recebeu poucos missionários estrangeiros, comparado ao contingente que as igrejas históricas mandaram de seus países. O pentecostalismo clássico desenvolveu uma missiologia autóctone3, ou seja, os pentecostais desenvolveram uma evangelização dentro da cultura brasileira. A Assembléia de Deus produziu em poucos anos os obreiros nacionais, os missionários suecos ensinaram os crentes brasileiros a se envolver na evangelização e logo surgiu os primeiros pastores e missionários.
Segundo o erudito metodista, especialista em missiologia, o pr. Luís Wesley de Sousa, as igreja que menos enviaram missionários estrangeiros (pentecostais), foram as que mais cresceram, isso por causa da evangelização com cristãos nacionais:

“Intriga-me observar, por exemplo, a desproporção entre o pentecostalismo e o protestantismo de tradição no que tange à presença numérica de missionários estrangeiros em seus quadros ao logo destes 94 anos de existência no Brasil. As igrejas históricas receberam muitos missionários, enquanto o pentecostalismo clássico teve um número ínfimo de missionários , proporcionalmente falando e se comparado com o tamanho do protestantismo de tradição. O fato inédito está em que os grupos que menos cresceram foram justamente os que receberam mais missionários. Em contrapartida, os que menos receberam missionários os que mais cresceram”.4

O batismo no Espírito Santo e a obra missionária

O fator do crescimento pentecostal no Brasil, foi a ênfase no revestimento de poder para comissionamento missionário. Essa enfase é bíblica: “ Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”(At 1.8). O bastimo com o Espírito Santo, tem como propósito principal, revestir o crente de poder, para testemunhar de Cristo. A ênfase desse testemunho é Cristo, uma mensagem cristocêntrica. Aquele que foi um mestre em teologia, Donald Stamps, escreveu: “O batismo no Espírito Santo outorgará ao crente ousadia e poder celestial para realizar grandes obras em nome de Cristo e ter eficácia no seu testemunho e pregação”5.
Infelizmente, hoje há grandes congressos pentecostais, pregadores de renome, vídeos e dvd´s, incentivando uma vida de poder, mas sem destacar o papel do serviço cristão. Querem poder para vencer materialmente ou ter poder político, um destaque triunfalista e antibíblico do Batismo no Espírito Santo. George Wood, erudito pentecostal, escreveu: “O batismo no Espírito Santo, como se entendeu em Azuza, não era somente para benefício pessoal; seu propósito central era conceber poder. Esta é uma distinção vital, porque alguns tem buscado o Espírito por uma experiência mística, e não por um novo arrojo e competência para ser testemunha de Cristo”.6 Fugir do propósito principal do Batismo no Espírito Santo é perigoso e têm levado muitos a um espiritualidade rasa e herética. Vale transcrever a observação do professor John V. York, da Assembléia de Deus norte-americana:

“O batismo no Espírito Santo não deve ser confundido com emocionalismo ou alguma outra reação humana à presença do Espírito Santo. Personalidades humanas são diferentes, e reações aprendidas variam. O que é essencial é a realidade da concessão de poder divino focalizado em testemunho e serviço. Existem aqueles que confundem o pentecostalismo com a exuberância na adoração ou com um comportamento emocional. Ao passo que não seria sábio diminuir o significado das emoções humanas ou da adoração vivaz, esses conceitos não são a essência do pentecostalismo. Seu princípio fundamental é a capacitação sobrenatural de crentes com poder para que possam, em palavras e em obras, adequadamente testemunhar de Cristo às nações do mundo.”7

A missiologia pentecostal valoriza o papel de cada crente na evangelização, pois todos devem buscar o revestimento de poder para testemunharem de Cristo. A evangelização assembleiana foi baseada em leigos e não em clérigos. A doutrina do sacerdócio universal, mostra a importância do Corpo de Cristo (Igreja), como uma comunidade unida que cada um mostra o seu serviço em cooperação. A doutrina pentecostal do Batismo no Espírito Santo e a doutrina evangélica do sacerdócio universal, faz de cada crente pentecostal um missionário. Como lembra Loren Triplett: “O pastor pentecostal que não leva a igreja a obedecer mundialmente à Grande Comissão é, em termos, uma contradição. O pastor pentecostal terá um coração missionário e reconhecerá que recebeu esse coração missionário, quando foi batizado com o Espírito Santo. Ser pentecostal é ser missionário.”8

A ajuda do Espírito Santo na obra missionária

No livro Verdades Pentecostais, o pastor Antonio Gilberto descreve a assistência do Espírito Santo na obra missionária.9 O Espírito Santo escolhe, envia capacita e direciona os evangelizadores. No livro de Atos dos Apóstolos, se observa o Espírito Santo agindo em meio a Igreja. A igreja que dá espaço para a atuação do Espírito Santo será um celeiro do evangelismo, com eficácia e na direção divina. “O evangelismo e a obra missionária são o fruto natural de uma vida e testemunho para Jesus Cristo de uma igreja cheia do Espírito.”10

A necessidade da evangelização

O Brasil é o maior país espírita do mundo; as seitas pseudocristãs crescem a todo o vapor; em torno de dois bilhões de pessoas no mundo, nunca ouviram falar de Jesus Cristo. Esse são apenas alguns dados que mostram a necessidade da evangelização na cultura local e as missões transculturais. Os apóstolos chegaram a evangelizar todo o mundo conhecido da época, apesar das perseguições e falta de recursos. A urgência é enorme, mas enquanto isso as igrejas ocidentais se envolvem em doutrinas materialistas, que buscam o reino da terra, e esquecem de proclamar o reino de Deus.
A prosperidade das igrejas ocidentais só levam os lideres a alimentarem a vaidade própria. O evangelicalismo atual está mais preocupado em construir catedrais, do que escolas de missão; gastam mais dinheiro com shows ,do que com o caixa de missões. Conta-se a história que Tomás de Aquino foi ao encontro de Sumo Pontífice; o Papa, então com uma sacola de dinheiro, disse a Tomás de Aquino: “não precisamos mais dizer que não temos prata e ouro” e Tomás respondeu: “ e nem podemos mais responder 'levanta-te e anda'.”
Alguns dados são assustadores, o missiólogo Ronaldo Lidório enumerou alguns deles:

“Há ainda em nossos dias cerca de 8.000 PNAs (Povos Não Alcançados), 300 milhões de aborígenes que nada sabem de Jesus (e isto é quase o dobro da população de todo o Brasil), mais de 300 ilhas onde mais de 90% de seus habitantes nunca receberam sequer um testemunho do evangelho de Cristo e 4244 línguas sem sequer João 3:16 traduzido em seu idioma. No norte africano e mundo oriental há em média apenas 1 missionário para cada 7 milhões de habitantes, em diversos países mais de 200 grupos nômades permanecem ainda intocados pelo evangelho e apenas ao meu redor, entre os Konkombas, posso nomear pelo menos 40 aldeias com uma população total de 50.000 pessoas que nunca, sequer uma só vez, ouviram o nome Jesus. É necessário chamar.”11

As seitas, um desafio missionário

A igreja hodierna precisa investir em missiologia e em apologética. O império das seitas, sejam elas pseudocristãs ou orientais, é um grande desafio missionário, que só pode ser vencido por meio da apologética. O naturalismo e outras filosofias estranhas ao evangelho necessitam de respostas dos apologistas.
Para ser apologista é necessário ter um conhecimento bíblico, teológico e cultural, a igreja no evangelizadora não pode esquecer de estudar; como lembra Claudionor de Andrade: “Há obreiros que no ímpeto de evangelizar, não aplicam a aprender a doutrina bíblica. Acham que o ensino sistemático das Sagradas Escrituras é perca de tempo”.12 O teólogo Claudionor lembra ainda uma frase de Charles Spurgeon, o príncipe do pregadores: “Os homens, para serem verdadeiramente ganhos, precisam ser ganhos pela verdade.” Não adianta evangelizar, se o conteúdo dessa pregação for estranho as Sagradas Escrituras.

Conclusão

A igreja que cumpre a grande comissão, pode ser verdadeiramente chamada de evangélica e pentecostal. Caso contrário, ela torna-se indigna do nome. Robert Coleman escreveu: “Uma igreja que não sai para i mundo anunciando as verdades do reino não reconheceria o avivamento, mesmo que este viesse.”13

Notas:

1- Entrevista de Ronaldo Lidório para o Jornal Paixão pelas Almas

2- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 12. ed., Rio de Janeiro: CPAD , 2003, p. 215.

3- Autóctone. Adj2g.1. Que é oriundo da terra onde se encontra, sem resultar de imigração ou importação.(Dicionário Aurélio)

4- SOUSA, Luís Wesley de. Entrevista. In Resposta Fiel, Ano 4, n. 11, p. 12, CPAD, 2004.

5- STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 1631.

6-WOOD, George. Este Rio Pentecostal Azuza: La corriente afluente original. Revista del Enriquecimiento. Disponível no portal da Assembléia de Deus norte-americana (www.ag.org). Tradução livre.

7- YORK, John V. Missões na era do Espírito Santo. 1. ed., Rio de Janeiro:CPAD, 2002, p. 195.

8- Citado por BRITO, Robson. Projeto Missionário Pentecostal. Manual do Obreiro. Disponível no site: www.cpad.com.br/escoladominical.

9- GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1. ed., Rio de Janeiro:CPAD, 2006, p. 124.

10- WOOD, George. Uma Señal Diferente, Revista del Enriquecimiento. Disponível no portal da Assembléia de Deus norte-americana (www.ag.org). Tradução livre.

11- LIDÓRIO, Ronaldo. A Armadura de Deus e o Panoplian de Deus. Disponível no sitewww.monergismo.com

12- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. As verdades centrais da fé cristã. In Ensinador Cristão, ANO 7, n. 28, p. 16, CPAD, 2006.

13- COLEMAN, Robert. Como avivar a sua igreja. 15. ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 88.

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M. Rocha